domingo, 14 de setembro de 2008

RESENHA ANALÍTICA DO LIVRO MENINAS DA NOITE


Trabalho apresentado para a disciplina de Sociologia

Autor: Leandro Aparecido Tonietti

O livro “Meninas da Noite” de Gilberto Dimenstein é uma série de reportagens sobre a prostituição de meninas consideradas escrava da região norte e nordeste do Brasil que foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo, em 1992. É justamente a cobertura de prostituição infantil feita pela Folha, entre 1985 e 1995. Um trabalho amplo que durou um ano entre planejamento, investigação e publicação das matérias. O autor viajou durante seis meses pelo Norte e Nordeste do Brasil, procurando lugares onde meninas eram escravizadas sexualmente ou quase mantidas em cativeiro.
Segundo Gilberto Dimenstein, um dos estímulos à prostituição é a própria família: "A garota trabalha, em geral, de vendedora de chiclete ou bala. Mas é obrigada a levar uma determinada quantia para casa, sob pena de apanhar. Sem dinheiro, às vezes ela se entrega aos homens para voltar para casa com a quantia exigida. O furto é alternativo, porém mais arriscada."Com bastante propriedade, o autor usa a expressão meninas-escravas, visto que se trata de um mercado de gente. Ou como o autor descreve: "Convido o leitor a dividir comigo essa viagem pelas rotas do tráfico humano..." (p. 11). Ou seja, o que acontece nesse submundo da sociedade é tão-somente uma caricatura do que acontece em todos os outros planos: a mercantilização humana. A prostituição infantil é algo que preocupa todas as cidades do mundo. Uma realidade preocupante e verdadeira. Gilberto Dimenstein coloca isso em tese neste livro. Todas as meninas relatadas em nesta obra têm problemas com os familiares, algumas nem possuem pais ou familiares, não tendo ao menos onde morar. O livro também mostra que há uma escravidão em todo esse meio. As meninas têm lugar pra morar e tem que pagar por tudo que elas consomem, desde comida até perfumes e roupas. Elas sempre ficam com dívidas quase eternas, nunca podendo sair da prostituição. Há casos também de meninas virgens sendo leiloadas. A virgindade é algo que os homens querem como mérito nesses locais. Eles fazem leilões para ver quem dá mais pelas meninas virgens, e o comprador que der o valor mais alto tira virgindade da menina. Várias dessas crianças são chamadas para trabalhar em empregos formais como garçonetes, faxineiras etc., mas essa promessa é totalmente falsa. Quando as meninas chegam ao local, são levadas imediatamente para a prostituição infantil. As que negam em se prostituir são perseguidas, torturadas, e as meninas que tentam fugir da casa de prostituição maioria das vezes são mortas até pelos próprios policiais da região.
Gilberto Dimenstein aborda, também, a prostituição na área indígena que, segundo o líder Antônio Apurinã, de Rio Branco, Acre, é alarmante.O autor nos faz refletir sobre a condição sub-humana em que vivem as meninas, morando em cativeiro e sendo traficadas para se prostituírem. Revelou que muitas meninas de classe média acabam vendendo seu próprio corpo para comprar uma calça de marca. No percurso, perdem-se nas drogas e nas doenças e entram para o submundo, geralmente num caminho sem volta. No final do livro Gilberto Dimenstein consegue denunciar todos esses abusos para a polícia que acabaram prendendo o maior cafetão da região. As meninas foram libertadas e receberam cuidados médicos que necessitavam. Mas não há dúvida que a maioria delas irão voltar para a prostituição, pois é a única fonte de sobrevivência que elas possuem.
Analisando os aspectos do livro que as meninas que caem na prostituição são na maioria das vezes, meninas que passaram por algum estupro na infância, por pais, parentes, ou alguém desconhecido, como no caso da Maria Aparecida da Silva que trocou sua virgindade pelo sonho de ter uma boneca que nunca foi dada a ela. As garotas que vivem nesses locais são expostas a doenças, muita falta de higiene e se submetem os abortos precários.
Observamos assim que a falta de estrutura familiar é uma das causas que mais contribuem para a prostituição e colocam em foco fatores socioeconômicos e psicológicos.
As mulheres prostituías, em sua maioria foram, foram condicionadas para ser prostitutas através dos maus tratos, da violência, da discriminação e da falta de auto-estima, que as faz vulneráveis e passivas. Dentro desses condicionamentos, as mulheres sentem que não valem nada em si e que seu único recurso é o uso do seu corpo como objeto sexual.
Fatores econômicos como a falta de emprego, migração para os grandes centros urbanos, jovens do campo passando a viver na cidade, mães solteiras com dificuldade na manutenção do filho. Moradias em condições subumanas como: barracos, cortiços, porões, muitas vezes abrigam a promiscuidade, que é um caminho aberto para a prostituição.
Fatores psicológicos como as carências afetivas, e traumas que marcam a infância e a adolescência das pessoas. Tem-se observado, na convivência com as mulheres prostituídas nas situações de pobreza, que na maioria foi estuprada na infância por alguém muito próximo, possui baixa ou nenhuma escolaridade e faltou-lhes apoio familiar. Quanto às mais jovens trocam o corpo por uma quantia de droga ilícita.
Há uma legião de meninas vendendo o corpo por desinformarão e ilusão, levadas pela ganância de agenciadores, e pela mídia. Que querem ganhar dinheiro, com baixa escolaridade e sem empregos a vista. Enxergam, no sexo comercializado, a única porta para as maravilhas do consumo, o ideal moderno da felicidade.
Um grande número delas sofreu violência sexual por parte de familiares, pessoas próximas ou nos locais onde trabalhavam como doméstica.
Iniciaram a prostituição na puberdade e na adolescência, provocando distúrbios no seu comportamento afetivo-emocional e obstáculos no aprendizado fundamental básico, ou seja, são em sua maioria analfabetas ou semi-analfabetas. São rejeitadas socialmente pela atividade de prostituição e assimilam de forma profunda os preconceitos e a desvalorização social, fatores que agravam as dificuldades de procura e de entrada no mercado de trabalho. Em situação de abandono, são submetidas e exploradas por mulheres e homens que vivem da prostituição os chamados cafetões e também de traficantes de drogas. Envolvidas nessas situações são constantemente presas e vitimas de abusos e violência policial.
Das 53 meninas e adolescentes prostitutas entrevistadas no livro, nada menos que 95% vêm de famílias desestruturadas, 80% não tem contato com o pai, os pais de 30% das entrevistadas estão mortos, 35% admitem que sofreram tentativas de abuso sexual em casa, apontando o padrasto como o principal responsável diante de uma mãe passiva, 50% apontam a bebida como um problema familiar
Diante das porcentagens podemos descrever para ilustrar dois relatos de jovens em Belém:
“Quando estou com fome, vou a um restaurante e peço comida para o garçom. E digo que vou pagar com uma chupetinha (sexo oral) faço o que tenho que fazer e ganho minha refeição”.
“... queria muito um a calça que tinha visto na vitrine, mas não tinha dinheiro para comprar o moço da loja percebeu e eu troquei minha virgindade pela calça”.
Os dois fatos tratam da barganha de um objeto ou alimento pela atividade sexual, sendo que a refeição trata-se de uma questão de sobrevivência, mas ao querer adquirir uma calça pode-se enfrentar como um capricho, ou vontade de adquirir aquilo que de nenhuma forma se pode.
Há também casos em que as mães se aproveitam da situação de prostituição da filha e quando elas querem sair ou saem dessa vida, as mães não aceitam, pois suas filhas assim param de trazer renda para suas casas, como o caso de Ana Paula que trabalhava grávida no prostíbulo da mãe.
Essa trajetória violenta trás muitas conseqüências em suas vidas, para elas é extremamente complexo enfrentar a forte marca que recebem por estar e freqüentar a rua, por seus comportamentos, vão descobrindo um mundo surrealista e sem privilégios sociais, cheios de subornos, violência psicológica e marcas da violência física, a falta de perspectiva, de qualificação, de conhecimento de outra vida, acabam lhe causando depressão que leva algumas a pensar em suicídio desde de que começaram a se prostituir.
Encontramos no livro também os lugares onde essa exploração sexual é mais freqüente, os garimpos, por exemplo, propiciam as formas mais violentas de exploração sexual que incluem cárcere privado, venda e trafico de crianças e adolescentes, leilões de meninas virgens, mutilações, desaparecimento e turismo sexual portuário e de fronteiras.
A exploração em prostíbulos também é citada no livro, nas regiões da fronteira e da rota de narcóticos, com redes de prostíbulos fechados e leilões de virgens.
E talvez o mais comum e preocupante que é o turismo sexual, com uma rede organizada de aliciamento que inclui agencias de turismo nacionais e internacionais, hotéis, taxistas e comercio de pornografia, trafico de menores para países estrangeiros. Fenômeno recente na região é a descentralização da exploração de menores que começa a se deslocar do litoral para o sertão.
Observamos que essas rotas de tráficos de meninas convertidas em prostitutas é um sinal cristalino da desorganização e desumanidade desse movimento.
Apesar de o Nordeste ocupar o primeiro lugar na rota de trafico sexual no Brasil com 289 municípios, podemos observar também que a região Sudeste vem em segundo lugar com 241 municípios e a região Sul em terceiro com 162 municípios, segundo a pesquisa realizada pela Unicef e Pela a universidade de Brasília, entre as cidades apontadas 93 estão dentro do Estado de São Paulo, assim percebemos que o problema da exploração sexual no Brasil está mais próximo da nossa realidade do que podemos as vezes perceber.
Podemos fazer um paralelo do livro com dois artigos da socióloga “Afife Salim Sarquis Fazzano”, “Quando Berço é a Rua” e “Sociedade; Produção: Miséria”, onde ela faz uma analise da marginalização, da vida de miséria de crianças e adolescentes que vivem nas ruas sem nenhum apoio governamental, mostrando ainda os contrastes da vida dessas pessoas com a da leite, mostrando assim como é desigual a situação em nosso país, e acabamos por perceber que a vida desses marginalizados não é muito diferente da vida que dessas meninas citadas no livro de Dimenstein.
O livro trabalhado tem o papel informativo e de mudança social, tanto como denuncia do fato a sociedade e também, no mais intimo de nosso pensamento influenciar como medida de mudança sócia cultural, para que não fiquemos inertes a tal situação injusta e desprezível, que façamos algo contra essa pratica absurda e demonstremos nossa inquietação e indignação, e que não fique só na leitura do livro, mas que ele nos de força para fazer algo para mudar tudo que está acontecendo ao nosso redor e que às vezes fechamos os olhos para essa realidade tão injusta e cruel.
Podemos concluir com esse trabalho que a exploração social é um grave atentado aos direitos das crianças e dos adolescentes. Ela se caracteriza pelo uso sexual com fins de lucro, seja levando-os para manter relações sexuais com adultos ou adolescentes mais velhos, sejam utilizando para a produção de materiais pornográficos, como revistas, fotografias, filmes, vídeos e sites na internet e principalmente quando há o trafico dessas pessoas que são levados para outros países com promessas de empregos e acabam tendo que vender o próprio corpo para sobreviver.
Considerar que a prostituição é uma opção de trabalho é considerar que o corpo da mulher e dos menores de idade é uma mercadoria. Essas pessoas são os filhos da promiscuidade gerados pela miséria, pela desigualdade nesse país, pela droga, pela violência sexual infantil e principalmente pelo descaso de nossos governantes que faz pouco para mudar essa realidade, não devemos seguir esse exemplo, não podemos cruzar os braços, temos que denunciar todo tipo de violência sexual ou não, se cada um fizer sua parte podemos fazer a diferença.

Bibliografia:

DIMENSTEIN, Gilberto, 1992. Meninas da Noite. São Paulo, Editora Ática.
FAZZANO, Afife Salim Sarquis, 2007. Sociedade; Produção: Miséria.
FAZZANO, Afife Salim Sarquis, 2007. Quando o Berço é a Rua: uma analise da desigualdade social, sua repercussão no desenvolvimento pessoal e as possibilidades de reintegração social.
LOPES, Tielli, 2008. Rotas do da Exploração sexual infantil no Brasil. http://tielli.blogspot.com/2008/01/explorao-sexual-infantil.html











Um comentário:

Estante Pessoal disse...

Olá..
Comecei a ler este livro ontem, e coincidentemente, no Repórter Record, passou uma reportagem sobre o mesmo tema, com referênica a Casa de Passagem. Espero que esse livro possa me fazer abrir os olhos, transformando-me em um futuro jornalismo melhor.